Publicado por Osvaldo Cruz em 09/07/2014 às 6:40 pm Nenhum Comentário
Jornalista Sergio Augusto |
O índio, o negro, o homossexual, o deficiente físico, o idoso, o ex-presidiário e a mulher são os titulares da seleção brasileira que vive à margem dos benefícios do desenvolvimento do país. O time já passou por vários dirigentes, sócios, conselheiros e técnicos, que implantaram estatuto, hino, escudo e bandeira; viabilizaram patrocínio, mídia e publicidade; mudaram o esquema tático e a lista dos jogadores de reserva, no entanto, o maior adversário, “o preconceito”, ainda não foi vencido.
O índio, na posição de goleiro, é o jogador mais antigo do elenco. Goleado pela intolerância, vem sendo dizimado, desprovido dos direitos de pessoa humana, de cidadão, principalmente com a perda do seu território e identidade cultural.
O negro, jogando como zagueiro, é sempre atacado pelo apartheid. Em virtude da cor da pele e do cabelo crespo, é impedido de ultrapassar o meio-campo, recebendo como “troféu” o alto índice de desemprego, maior população carcerária, baixo nível de escolaridade e menor poder aquisitivo.
O homossexual, também atuando na defesa, é combatido pelo radicalismo, proveniente de uma parcela da sociedade que associa opção sexual a aspectos morais e religiosos.
O deficiente físico, armando jogadas e se defendendo nas laterais, tem como oponente o obstáculo. A maioria dos setores público e privado carece de espaços, recursos tecnológico e humano que promovam o bem estar do portador de necessidades especiais. Há barreiras arquitetônicas urbanísticas, na edificação, nos meios de transportes e nos sistemas de comunicações.
O idoso, situado no meio-campo, depara-se com a indiferença, ficando-o a mercê da caridade alheia, inclusive no que tange a saúde pública, segurança, lazer, educação e transporte.
O ex-presidiário, improvisado nas pontas direita e esquerda, duela com a incerteza. Mesmo apto ao convívio em sociedade, além de viver sob a mira da polícia, fica quase que improvável sua inserção no mercado de trabalho formal.
A mulher, posicionada como centroavante, tem como marcador a desigualdade. No processo de trabalho, por exemplo, ganha salário inferior ao homem, mesmo exercendo função semelhante a ele e, na maioria das vezes, para obter ascensão social é obrigada a fazer uso da sua nudez.
Nota-se que esse time possui excelentes atletas, todavia, não há entrosamento entre eles. Ao longo da história, a equipe venceu algumas partidas, no entanto, não tem registro de campeonato conquistado. Por sua vez, a torcida é apaixonada e perseverante, porém falta organização, inclusive para reivindicar uma comissão técnica sensível às potencialidades, criando jogadas ensaiadas, segundo os valores do bem e da decência pública, enfim, preparando a defesa e marcando gols mediante a inclusão dos direitos civis, sociais, econômicos, culturais e ambientais, explicitados na Constituição.
Por Sérgio Augusto (jornalista)